28/04/2010

Serra da Gandarela

Movimento ambiental pede a criação de um
parque nacional para a preservação da região

Gustavo Pinheiro (para o Jornal Opinião)

Integrantes do Projeto Manuelzão e do Movimento de Preservação da Serra da Gandarela realizaram no último sábado um ato simbólico de abraço em defesa da Serra da Gandarela, localizada entre os municípios de Barão de Cocais, Caeté, Santa Bárbara, Rio Acima, Raposos e Itabirito. O objetivo foi o de sensibilizar a população para a importância de se proteger o último reduto ambiental da área do quadrilátero ferrífero. A ação reuniu estudantes, pesquisadores e defensores da preservação de várias regiões da Grande BH.


A Serra da Gandarela é o último reduto ambiental da região metropolitana de Belo Horizonte e da APA Sul. Nela são encontradas biomas como Mata Atlântica, Cerrado e ainda a vegetação de canga. A serra é ainda um grande reservatório natural de águas, possuindo água de alta qualidade, que dispensa o tratamento prévio, que é o caso da água de Classe Especial. A região é rica em cachoeiras, lagos, sítios históricos e paleoambientais. A Serra mantém a maior área de cangas preservadas de Minas Gerais. Nesse ambiente, habitam espécies vegetais e animais raros. Mais de 100 cavernas já foram registradas, sendo algumas delas caracterizadas como de máxima relevância para preservação.

Não apenas membros de movimentos ambientais estão engajados na preservação da Serra da Gandarela, mas muitas outras pessoas foram conquistadas pelas características fantásticas da região. “Temos aqui um patrimônio que está acima do deus mercado. São espaços e bens assim que mostram o verdadeiro valor de um povo. Um espaço e uma paisagem que articula sítios históricos, que preserva a natureza peculiar a uma região pouco conhecida e que, infelizmente, ficou cercada de lugares importantes desfigurados. De outro modo, e para sermos mais pontuais com a nossa sobrevivência, é nela que nascem alguns dos cursos de água mais importantes para o abastecimento público de várias cidades e da região metropolitana”, avalia o jornalista Gustavo Tostes Gazzinelli, um dos líderes do movimento que pede a criação do Parque Nacional das Águas do Gandarela.

O jornalista participou do ato simbólico ocorrido no sábado. “Fiquei ainda mais perplexo com o potencial ambiental deste lugar. É como se fosse uma ilha de preservação, biodiversidade e água, a poucos quilômetros de uma região metropolitana que em poucos anos terá dez milhões de habitantes”, diz. “Ninguém imagina o quanto isso poderá agregar ao potencial econômico e à qualidade de vida de nossa região, sem falar da autoestima dos seus habitantes, habituados a só acharem belo o que está fora, ou a conviver com as crateras minerárias que se vão multiplicando a torto e a direito. Precisamos de motivos como este para nos orgulharmos”, observa.

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, órgão federal responsável pela criação de unidades de conservação, recebeu a proposta de criação naquela região do Parque Nacional Águas do Gandarela e já sinalizou que a região tem os atributos indispensáveis para sua criação. Gazzinelli lembra que a criação do parque nacional, com objetivos de preservação, será um importante fator para preservar a área. “Mas as garantias também dependerão da construção de uma ordem moral mais sólida, menos volátil, de políticos e de uma sociedade que não se vendam, que não aceitem projetos de curto prazo que serão a danação das gerações futuras - e da volta do transporte ferroviário para esta região, disciplinando e dando valor ao uso e à sua fruição territorial. Sabemos que há um processo administrativo instaurado, que a proposta está avançada, tendo já ocorrido vistorias técnicas na maior parte da área e que o parque terá grande apoio popular. Parece que as pessoas já conhecem as marcas e a paisagem que a mineração deixa, por onde vai passando”, constata.



“É uma pena que nossas lideranças e autoridades públicas fiquem sentadas aguardando a primeira oferta para destruição desse manancial e oásis, para trazer resultados econômicos de curto prazo e destruir a galinha dos ovos de ouro para sempre. Afinal qual o investimento efetivo que estas autoridades têm feito para potencializar o uso turístico e a criação de royalties da produção de água que verte da Serra da Gandarela? Creio que nada. Se habituaram à cultura perversa do extrativismo irreversível. Não semeiam, não plantam e não colhem valores. Não cultivam esperanças, não constroem perspectivas duradouras. Se habituaram ao paternalismo de uma grande empresa, como se não tivessem nada a desenvolver. É triste, é patético”, conclui o jornalista Gustavo Gazzinelli.



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Blog do Macaca
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