23/05/2013

300 anos de Caeté

Até firmar-se como destino turístico, são muitos os desafios que Caeté tem pela frente. Investir na preservação e valorização do nosso patrimônio e dotar a cidade de equipamentos e de serviços relacionados com o desenvolvimento do turismo devem ser prioridades


Faltam 266 dias para Caeté completar 300 anos de emancipação política. A contagem regressiva para as comemorações da criação de Vila Nova da Rainha foi aberta dia 19 de abril deste ano, com muita pompa, pelo poder público. Mas, a despeito de esse ser um período festivo e aguardado por várias pessoas, as comemorações do tricentenário de Caeté também trazem consigo algumas incertezas na medida em que se leva em conta o objetivo do governo municipal, que é recuperar o potencial turístico perdido por Caeté ao longo dos últimos anos, diante de um cenário extremamente desafiador.

Serra da Piedade e Igreja matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso estão entre atrativos da cidade (Foto: Gustavo Pinheiro)
 Beneficiar Caeté do turismo como fonte para seu desenvolvimento socioeconômico, analisando o cenário atual, não parece ser uma tarefa das mais fáceis para a cidade. Ao longo de décadas e muitos governos, o poder público pouco acreditou e explorou o potencial turístico de Caeté, tanto em relação ao histórico quanto ao natural, e por pouco acreditar nessa potencialidade não houve investimento na preservação e valorização de seu patrimônio material e imaterial. Quais ações estão sendo realizadas para que a cidade se firme como um destino turístico de verdade?

De forma discreta, a Prefeitura de Caeté tem divulgado algumas ações, a maioria pontuais, em benefício do setor e se associado a projetos para fortalecer a imagem do município em outras regiões - tudo ainda de forma incipiente. Depois de quase dez anos, a cidade voltou a ter uma secretaria municipal para cuidar especificamente de turismo e cultura e, ao que tudo indica, os investimentos podem crescer. Para a presidente do Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté, a medida é interessante, mas ainda não é suficiente. “É necessário planejamento, visão estratégica e a contratação de profissionais capazes de criarem e executarem bons projetos”, observa Ana Flávia Gonçalves. Conforme ela, o fortalecimento e valorização dos conselhos municipais  também se torna de suma importância, “pois através deles se efetiva a participação democrática da comunidade na vida da cidade.”

Segundo Ana Flávia, o potencial artístico do caeteense é pouco valorizado, o que cria uma mentalidade coletiva de que temos um município com menos importância que os outros no que se refere ao cenário cultural. “Uma mudança de mentalidade, a efetivação de políticas públicas eficazes e investimento se tornam cada vez mais urgentes. A associação com outras cidades da região que possuem as mesmas características, permite a criação de circuitos onde a soma de atrativos faz todas ganharem. A organização de um projeto, com bastante antecedência, para a comemoração dos 300 anos da cidade, abrangendo diversas áreas, já demonstra um certa maturidade da nova administração. Esperamos que o investimento intelectual, político e financeiro continue durante todo o governo”, salienta.

Poder público e comunidade precisam se unir
Prefeito de Ouro Preto por três vezes, Ângelo Oswaldo de Araújo Santos foi um dos responsáveis, em 2011, pelas intensas celebrações dos 300 anos da criação de Vila Rica. Em entrevista ao Opinião, o ex-prefeito de uma das cidades mais importantes do circuito turístico nacional avalia que essas comemorações tendem a reforçar os laços de pertencimento e cidadania dos moradores para com a sua cidade. “Quem conhece a história de Caeté, não pode duvidar do Brasil e acredita na coragem e na energia do povo mineiro. É importante que o poder público e comunidade se unam para valorizar Caeté com base numa data tão expressiva”, afirma.

Ângelo Oswaldo foi prefeito de Ouro Preto por três mandados (Foto: Lamberto Scipioni)
Indicado para presidir o Instituto Brasileiro de Museus, órgão federal com sede em Brasília, Ângelo é um grande conhecedor da história de Caeté, cidade pela qual mantém considerável afeição. “Sempre tive admiração por Caeté, que sabe conservar suas marcas identitárias de cidade histórica mineira. Houve transformações, é claro, promovidas pelo ciclo do minério de ferro e a siderurgia, mas a cidade mantém o seu caráter”, diz. Para ele, se Caeté quiser se beneficiar do turismo, são necessárias políticas de cultura e de turismo mais arrojadas.

“O potencial de Caeté é muito grande e o ponto principal me parece ser a Serra da Piedade, pouco explorada. É preciso mostrar a riqueza ali guardada. O Museu Regional é outro ponto de destaque. Os casarões antigos podem abrigar muitas atividades de interesse turístico. É preciso lembrar que a história não ficou no século XVIII. Aí está o Solar do Tinoco, lembrando os governadores João e Israel Pinheiro. A região tem tudo para atrair visitantes se se organizar para isso”, observa.

Para que não perca suas potencialidades, a área de turismo exige atenção permanente do poder público, conforme assegura Ângelo Oswaldo. Tornar os pontos turísticos de Caeté mais conhecidos em outras regiões é, segundo ele, uma das alternativas para “vender” a imagem do município aos turistas. “Caeté tem os atrativos, mas quem projeta esse potencial dentro e fora de Minas? A comunidade, os empresários, a Prefeitura? A Serra da Piedade, com seu observatório astronômico e o santuário, deveria tornar-se um verdadeiro emblema do turismo na região metropolitana e no coração de Minas”, comenta.

Caeté tem potencial para receber o Comida di Buteco, diz criador do festival
Idealizador do festival Comida di Buteco, que teve a edição belo-horizontina encerrada no último sábado, o chef Eduardo Maya comemora a 14ª edição do concurso que vem conquistando diversas outras cidades por todo o país. Realizada entre abril e maio, a edição BH reuniu 45 bares na disputa, que teve a linguiça e a mandioca como principais ingredientes. 

Para chef, Caeté tem potencial de receber festival Comida di Buteco (Foto: Beto Eterovick)
“Costumo dizer que o sucesso só vem antes do trabalho no dicionário. O festival é um trabalho muito árduo”, conta Eduardo, que promoveu a seleção dos bares participantes em 16 cidades brasileiras. “É um projeto que valoriza a cultura de raiz, sendo o primeiro do setor no Brasil. Hoje o mundo fala muito sobre a cozinha de raiz, mas nós já falamos disso há 15 anos.”

Aproveitando a excelente fase do Comida di Buteco, Eduardo Maya anuncia que está abrindo franquias para que outras cidades também posam participar do projeto. Caeté, segundo ele, pode aproveitar o potencial de seus bares para repetir a iniciativa, que já é sucesso por todo o país. “Como não temos braços para atender todo mudo, estamos abrindo franquias. Se tiver alguém em Caeté interessado em fazer o Comida di Buteco, vamos sentar e conversar. Há um potencial a ser explorado”, anima-se.

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