02/05/2013

Falta de planejamento emperra Distrito Industrial de Caeté

Apresentado à população como alternativa para geração de empregos, projeto completa 10 anos sem sair do papel

Gustavo Pinheiro


Apresentado pelo poder público em 2003 como uma promessa para tentar dinamizar a economia de Caeté, o Distrito Industrial ainda está longe de ser um fator diferencial na reabilitação econômica da cidade. Dez anos após a criação do espaço produtivo, a área que deveria receber diversos empreendimentos, especialmente para suprir a demanda local por empregos e contribuir com impostos à administração municipal, parece estar indisponível à inovação e à tecnologia. Isso ocorre ao mesmo tempo em que muitos caeteenses não encontram oportunidades de trabalho na cidade e precisam se deslocar dentro da Grande Belo Horizonte, muitas vezes em situação precária, em busca de emprego.


Distrito Industrial de Caeté, criado há dez anos, está longe de ser um fator diferencial na economia da cidade (Foto: Gustavo Pinheiro)
O Distrito Industrial está localizada ao lado do bairro Vila das Flores, em continuidade à antiga Fazenda Ouro Fino, num local de topografia muito acidentada. A área, de aproximadamente 35 hectares, pertence ao município e tem hoje mais de 25 lotes distribuídos em 2 quadras. O terreno foi doado à Prefeitura de Caeté, em 2003, pela Saint Gobain, contando com aprovação da Companhia de Distritos Industriais, órgão estadual hoje anexado à Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais. Desde a sua criação, pouco foi feito no sentido de dotar o parque de infraestrutura necessária à instalação das fábricas.

Nos últimos anos, durante a gestão de Ademir Carvalho, prefeito que encerrou seu mandato no ano passado, o poder público deu início a uma política de doar terrenos à iniciativa privada, acreditando que o simples fato de transmitir gratuitamente a posse da área, sem favorecer o local com alguma infraestrutura, seria o suficiente para atrair indústrias. “O município disponibiliza apenas a área, tendo o empresário a responsabilidade pela infraestrutura e investimentos de implantação”, afirmou Fernando Silva, então secretário municipal de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, em 2011. As diretrizes apontadas por Ademir, que praticamente esquivam a Prefeitura de gastar recursos no local, não serão modificadas por Zezé Oliveira, conforme sinalizou o próprio governo.

Sem diretrizes claras
Com a conivência da Câmara Municipal, pelo menos quatro empresas ganharam lotes no Distrito Industrial de Caeté, entretanto apenas uma deu início às operações. Ao receber da Prefeitura o terreno, os empreendedores se comprometeram a cumprir uma série de formalidades, entre elas garantir o início dos trabalhos em prazo determinado e oferecer número mínimo de empregos, sob pena de o lote voltar a pertencer ao município em caso de descumprimento. Informalmente, alguns empresários dizem que não estão conseguindo cumprir o acordo.

A Prefeitura garante que irá fiscalizar todo o processo de doação de terrenos. Segundo o governo municipal, as empresas que não cumprirem as diretrizes terão de devolver a área ao município. O poder público não informa, no entanto, o que está fazendo para garantir o cumprimento dos contratos, nem sabe dizer quantos postos de trabalho o polo gera a Caeté. “Estamos analisando a melhor maneira para que o Distrito Industrial seja bom para todos os munícipes”, resumiu a Prefeitura, que vem dando passos lentos quando o assunto é desenvolvimento econômico.

Planejamento é fundamental, avalia economista


Economista avalia que distrito pode virar 'elefante branco' (Foto: Revista De Fato)
A implantação de um distrito industrial em Caeté é vista com bons olhos por Frederico Penido de Alvarenga, professor de Economia e Finanças do Ibmec Business School. Ele adverte, no entanto, que a criação do polo industrial não deve servir apenas como uma resposta política do poder público, mas uma iniciativa a ser desenvolvida a partir de planejamento e continuidade das ações, independentemente da mudança dos administradores locais. “Antes de implantar um distrito industrial, há necessidade de pesquisar se há demanda para este investimento, quais tipos de empresas seriam melhores para a cidade de Caeté e se há infraestrutura para atender este polo. Senão há um bom risco de virar elefante branco”, observa.

Para Frederico, o poder público deve trabalhar em conjunto com o setor privado, e uma das alternativas apontadas por ele para a Prefeitura de Caeté é a efetivação de parceria com a Aciac. “É preciso fomentar a compra local, evitando a perda de consumo para Belo Horizonte, estimular a pequena empresa, capacitar novos empreendedores, fazer um programa de compras públicas municipais e trazer o ‘sistema S’ (Sebrae, Senai, Sesc etc.) para apoiar os projetos”, sugere. “Mas precisa de alguém com boa formação à frente deste projeto, que tenha bom trânsito com os empresários locais e que seja da área.”

Como Caeté gostaria de estar em 30 anos?
Dependente quase que exclusivamente de repasses constitucionais, conforme declarou o prefeito Zezé Oliveira logo após tomar posse, em janeiro, Caeté se vê diante da possível autorização de funcionamento do projeto Apolo, da Vale, o que promete mudar para melhor a situação financeira da Prefeitura. Segundo o economista, o recurso adicional proveniente da mineração tem que ser parcialmente utilizado para criar novas alternativas para a cidade. 

“Uma cidade atualmente é como uma empresa, não consegue ser boa em tudo que faz, precisa se especializar e focar suas atenções em áreas e setores onde possuem vantagens competitivas. Este é o desafio para Caeté: como ela gostaria de ser daqui a 30 anos e o que precisa ser feito para chegar lá? E como não se perder ao longo de várias mudanças políticas que acontecerão até lá.”


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