Projeto desafiador pretende criar uma reserva ambiental e fomentar o turismo sustentável numa das regiões mais belas do Brasil
Gustavo Pinheiro
Do Jornal Opinião
Nos últimos dias foram intensificados os debates em torno da criação de uma reserva ambiental numa região bem próxima a Belo Horizonte, a terceira mais importante cidade do país. Trata-se da possível implantação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, um projeto capitaneado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que visa preservar e utilizar de modo sustentável o último reduto ambiental da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Diversas consultas públicas foram feitas, sendo uma em Caeté no dia 8 de maio, para discutir a proposta de criação do parque. A decisão final, no entanto, será do governo federal.
Paraíso no centro de Minas
A Serra do Gandarela está localizada ao Sul de Caeté, no distrito de Morro Vermelho, abrangendo os municípios de Raposos, Santa Bárbara, Rio Acima e Barão de Cocais. O projeto do parque nacional ainda contempla os municípios de Itabirito, Ouro Preto e Nova Lima.
Lagoa das Antas, em Barão de Cocais (Foto: Alice Okawara) |
A área contém importantes remanescentes de Mata Atlântica com fragmentos de mata primária (também conhecida como mata virgem), o que é raríssimo no Brasil, campos rupestres sobre cangas, que registram a presença de vegetação endêmica (isto é, característica e muitas vezes só encontrada em uma dada região) e Cerrado. Essa diversidade de ambientes possibilita a sobrevivência de uma rica flora e de espécies animais, algumas ameaçadas de extinção, como onças, antas, lobos-guarás e espécies muito raras, como o microcrustráceo peripatus sp, um verdadeiro fóssil vivo, há mais de 500 milhões de anos habitando a terra.
A Serra contem, além disso, os maiores e mais preservados remanescentes de cangas ferruginosas do Quadrilátero Ferrífero, carapaça geológica que recobre nossas serras, funcionando na absorção e proteção das águas das chuvas, que se acumulam nas jazidas minerais de ferro, que são os principais aquíferos, ou reservatórios naturais de águas subterrâneas desta região.
Na crostra representada pelas cangas, mais de trezentas cavernas já estão mapeadas, muitas das quais de suma importância para estudos científicos. Além delas, uma bacia paleontológica em Santa Bárbara e diversos sítios arqueológicos, concentrados, especialmente, no município de Caeté.
Região da Serra do Gandarela (Foto: Alice Okawara) |
O potencial hídrico da região é evidenciado pela presença de um conjunto de aquíferos espetaculares que alimentam córregos e ribeirões dotados de lindas cachoeiras (são cerca de 50), lagoas naturais e abastecem mais de mil nascentes das bacias dos rios Doce e São Francisco.
A necessidade de preservar uma região com tantos atributos é tida por alguns como urgente e a criação do parque, segundo ambientalistas e o próprio ICMBio, é a principal a melhor atende a essa demanda, além de propiciar a alavancagem do imenso potencial turístico e científico a ser explorado.
Parque Nacional
Conhecidos como parques e reservas, as unidades de conservação federal geridas pelo Instituto Chico Mendes são áreas de rica biodiversidade e beleza cênica espalhadas em todos os biomas brasileiros - Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa, Pantanal e Marinho. Elas são criadas por meio de decreto presidencial ou lei, sendo divididas em dois grandes grupos: proteção integral e o de uso sustentável. Atualmente, segundo o ICMBio, o Brasil possui 310 unidades de conservação em todas as regiões do país.
A proposta de criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, encabeçada pelo Projeto Manuelzão e por 25 entidades de Minas Gerais, foi recebida em 2009 pelo ICMBio. O plano do parque foi acolhido pelo ICMBio a partir da apresentação de uma dissertação de mestrado e outros estudos que comprovam a necessidade da criação de uma unidade de conservação devido à sua relevância ambiental, histórica, cultural, paleontológica e paisagística.
Importantes aquíferos também são formados nesta região (Foto: Alice Okawara) |
O ICMBio, prontamente, abriu o processo para a criação do parque, informando o teor do projeto a vários órgãos licenciadores, entre eles a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Ibama, prefeituras da região onde se pretende instalar a unidade de conservação, Ministério Público e também sociedade civil.
O Parque Nacional da Serra do Gandarela pode, segundo o ICMBio, ser um dos maiores parques de visitação pública do Brasil, por estar localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com população estimada em 5,4 milhões de habitantes, segundo o IBGE, o que representa uma grande demanda para atividades de ecoturismo, lazer, turismo de aventura, atividades educacionais e científicas e contemplação da natureza, que podem gerar desenvolvimento econômico e aquecer a economia da região.
“Este conjunto de possibilidades dará ao parque destaque absoluto no cenário nacional, bastando um investimento relativamente pequeno em infraestrutura para visitação para que possa se tornar um dos mais visitados do Brasil, garantindo fonte de renda, diversificados negócios e movimentação financeira para os municípios incluídos, gerando postos de trabalho, arrecadação tributária e desenvolvendo uma economia regional sustentável.”, avaliou o ICMBio em sua proposta.
Futuro promissor
Autor de um estudo de viabilidade econômica do Parque Nacional do Gandarela, o economista José Tanajura de Carvalho prevê que a implantação do projeto poderá gerar inúmeros benefícios para os municípios de sua região de influência. Segundo o estudo, que foi obtido com exclusividade pelo Jornal Opinião, a alternativa de exploração das potencialidades da Serra do Gandarela em atividades turísticas pode ser rentável para populações e municípios, com custos inferiores a qualquer outra exploração que ainda possa ser cogitada para a região. “A implantação do parque é a melhor opção de destinação da Serra do Gandarela, constituindo-se, do ponto de vista estritamente econômico, em empreendimento altamente recomendado”, avaliou.
Lago natural (Foto: Alice Okawara) |
Segundo projeções do economista, após 10 anos da consolidação do parque, poderão ser gerados até 2.250 empregos diretos e indiretos em diferentes setores da economia, o que pode gerar cerca de R$ 7 milhões em receita e R$ 2,6 milhões em impostos. “Os ganhos para os municípios adjacentes ao parque irão se refletir também no erário das prefeituras, na medida em que haverá acréscimo direto nas receitas próprias e transferidas”, pontuou o economista.
A implantação do parque nacional representa para Caeté, dizem ambientalistas, uma nova alternativa econômica ligada à preservação ambiental, garantindo a melhoria dos índices de qualidade de vida, prestando serviços ambientais relevantes (água limpa, ar puro, biodiversidade preservada, manutenção de boas condições climáticas, entre outros), gerando empregos diversificados por tempo indeterminado.
(Consultoria: ICMBio e Movimento pela preservação da Serra do Gandarela)
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